Flávia Alessandra |
Mudanças? Nesse tempo todo, a informação mais importante e recorrente que recebi é de que “O mundo mudou mais nos últimos setenta anos do que em toda a existência”. O que pensar diante disso? Que sou um privilegiado por ter vivido a minha vida toda como testemunha ocular dessas mudanças ou mais uma vítima delas que só percebo que chegaram quando já são ultrapassadas? Saber que o processo de mudança é tão rápido me deixa, acredito, mais impotente diante das mudanças.
E as coisas aconteceram mesmo numa velocidade estonteante. Cada um de nós poderia, sem medo de errar, fazer uma extensa lista diferente das coisas que mudaram.
Na minha, por exemplo, estariam o penta campeonato mundial da seleção brasileira de futebol, a chegada do homem à lua, o resgate de homens (mineiros chilenos) do inferno, a eleição de um presidente negro num país racista fora da África, o fato de pelo menos dois operários terem conseguido se tornar presidentes em seus países (nesse caso, particularmente, tendo a acreditar que fui mais vítima do que privilegiado), o surgimento da internet (que revolucionou as comunicações), da TV a cabo, do telefone celular, do Axé Music (vixe!!!), da “digitalidade”, da progressão continuada (cruz credo), da criação do BBB, do Orkut, Face Book, Twitter, dos Blogs. Enfim, a lista não acaba. Mudou a estética (para pior, pelo menos aqui em solo tupiniquim).
Mas eu gostaria de falar sobre o que não mudou. Sobre coisas que não mudam nunca. A lista também é extensa: a corrupção, as cantadas (apelido politicamente correto para assédio sexual), a mídia exercendo seu poder, a bunda da Gretchen, o nariz do Luciano Huck, a sabedoria popular.
Sabedoria popular que aliás foi algo que sempre me encantou pela simplicidade (é, em síntese, sintética) e, sobretudo, porque é definitiva e, por incrível que pareça, quase sempre, conclusiva.
Convivi desde muito criança com frases surgidas do povo: “O mundo mudou mais nos últimos setenta anos do que em toda a existência”, “deve-se separar o joio do trigo”, “cavalo dado não se olha os dentes”, “amanhã é outro dia (essa é ótima)”, “o trabalho dignifica o homem”, “Deus é sábio”
Deus é sábio mesmo e nos dá vitalidade na juventude e experiência com o tempo. Imagine tudo junto. Consegue? Eu consigo. Imagino-me hoje com a vitalidade dos vinte, o dinheiro dos trinta, a cabeça do quarenta e a experiência atual.
A vitalidade perdi em parte, o dinheiro perdi por completo e é a experiência que me faz não perder a cabeça. Voltando ao começo desse texto, ainda me sinto um menino. Ainda capaz de fazer listas, ainda capaz de eleger musas. Sempre temos as musas (as mulheres devem ter seus “musos”, não é?). E se tem uma coisa que não muda é a idade das musas. Eu envelheço, elas não.
Na infância, por exemplo, em meus devaneios masturbatórios as musas eram a Vera Fischer, a Sônia Braga, a Maria Cláudia, a Angelina Muniz (Será que é possível isso? Ela depois que se tornou minha amiga deixou de fazer parte dessa lista, embora tenha feito antes) e a Rose di Primo (Alguém lembra dela? Eu jamais esqueci).
Na adolescência as musas passaram a ser a Christiane Torloni, a Lucélia Santos, a Luma de Oliveira, a Luisa Brunet, a Lídia Brondi (saudades da Lídia). Depois veio a Tiazinha (por onde anda mesmo a Tiazinha, hein?).
Hoje elas são a Mariana Ximenes, a Juliana Paes, a Deborah Secco, a Ana Paula Arósio e a Flávia Alessandra. Aiiii!!!, a Flávia Alessandra.
Deus é sábio, mas não é justo. Por mim a Flávia Alessandra não deveria envelhecer nunca. É....tudo muda, as musas mudam. Isso incomoda.
Sinais do tempo.