Total de visualizações de página

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

SERENATA VIRTUAL

O assunto hoje é gente. Aliás eu só falo de gente. E embora eu pareça voraz, mordaz, severo, intransigente, rígido, implacável (pode escolher) na verdade, acho, sou mesmo um otimista. Gosto muito mais de gente do que de coisas e por isso é esse o meu assunto preferido.


A única certeza que eu tenho, além da morte, é a de que tudo na vida é cíclico e esta é razão para que eu tenha convicção que é hora de voltarmos a evoluir. Não é possível que se possa regredir ainda mais.


Atônito, tenho sido testemunha de uma lenta e gradual transformação, para pior, nas pessoas, em seus sentimentos, em seus pensamentos e, sobretudo, em suas relações. A palavra é intolerância. Puxa!!!! Como estamos intolerantes com tudo e com todos. Não. Não me sinto, nem quero me sentir um velho, mas cada vez que penso em algo que me incomoda me pego pensando em coisas do tipo: no meu tempo as coisas não eram assim. Meu tempo? Meu tempo não é agora também? Sei lá. Aprendi as coisas de maneira diferente.


No meu tempo, por exemplo, era possível decidir visitar alguém sem ter que avisar antes. Sabe o que acontecia? Recepção alegre e calorosa. E ninguém ou quase ninguém colocava escondido, nessas ocasiões, vassouras viradas atrás de portas. O inconveniente era a possibilidade de não encontrar ninguém em casa. “Devem ter ido visitar alguém” era o comentário frustrado e compreensivo que se fazia. Aí era decidir voltar para casa ou visitar outro alguém. Soube de muitos desencontros provocados por visitas em comum. Uma família não encontrava a outra porque resolveram se visitar.


Eu sei que sempre haverá quem ache que hoje em dia é melhor. É mais educado perguntar se a visita é possível. A resposta, no mais das vezes, é negativa. Receber hoje é um saco. Visitar também.


Sou do tempo em que era comum, amigos armarem uma presepada qualquer, por pura diversão, para outro amigo (sem que esse estivesse esperando, claro) e continuarem amigos pelo resto da vida. Ninguém se ofendia e o gostoso era pensar no “troco”.


Sou do tempo em que as famílias se reuniam ao redor da mesa em cada refeição e conversavam sobre planos para a vida ou relatavam os fatos do dia e depois, todos juntos, assistiam a novela do momento.


Sou do tempo em que ir ao estádio de futebol torcer para o seu time era ato de confraternização, inclusive com o torcedor do time adversário.Sentávamos lado a lado, acredita? Adversário era apenas adversário e não inimigo.


Por falar nisso, sou do tempo em que briga de turma era rivalidade de bairros vizinhos. Gritos e palavrões eram as armas usadas. Os poucos hematomas eram curados, no dia seguinte, num bar qualquer de um dos bairros, com cerveja e muita risada, em companhia do agressor.


Sou do tempo em que ligar para alguém significava falar com esse alguém, mesmo que ele fosse desconhecido, não com máquinas e gravações. Era muito mais fácil falar com qualquer pessoa antes da invenção do celular. Não acha?


No meu tempo pedir a mão na namorada era ato distinto, de elegância, educação, de seriedade. Não significava como hoje "pagar mico".


Sou do tempo, enfim, em que não havia nada mais romântico do que uma serenata. O único e divertido risco que se corria era banho de água fria. Todos se fingiam ofendidos, mas dormiam em paz, sem raiva, ódio ou rancor. Hoje, infelizmente, só SERENATA VIRTUAL e, ainda assim, apenas até uma da manhã, sem cigarro, sem álcool e sem música.


Saudade de quando o mundo era em preto e branco. As cores só serviram para pintar a intolerância.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

UM VIVA A TODAS AS PUTAS


Depois de prolongada e proposital ausência para algumas reflexões – estava achando que este blog, ainda que seja chamado de incômodos e dê voz aos meus inconformismos, andava um tanto quanto azedo, mal humorado, ácido demais, chato mesmo - resolvi voltar agora, espero, mais revigorado, arejado. Estava sentindo falta.

Por mero acaso esse retorno se dá num momento em que a sucessão política é o assunto mais comentado em todos os cantos, em todas as rodas. Nada diferente.

De dois em dois anos a ladainha é sempre a mesma e, na prática, muito pouco ou quase nada muda. Essa é a minha opinião.
E foi essa conclusão que originou o texto que se segue e que dá reinício ao blog.

Tenho visto de tudo nessa campanha, absurdos antes incalculáveis (logo se vê que, pelo menos, alguma coisa mudou sim). Palhaços com e sem maquiagem fazendo do horário político um picadeiro, pseudos artistas tentando brilhar nos holofotes da eleição, respeitados artistas trocando a própria história por mais cinco minutos de fama, ex-atletas tentando novas jogadas ou velhos golpes, travestis e homossexuais sem seriedade com falsos discursos de libertação, negros usando a cor da pele como moeda de troca e tradicionais políticos venais se engalfinhando com aliados de ontem e de amanhã.

Só não vejo putas em campanha pedindo seu voto por que são putas. E olha que elas bem que poderiam utilizar-se desse expediente, uma vez que a campanha é uma zona e nossa política uma putaria. Deve haver e certamente há putas na disputa, mas elas me parecem mais dignas.

Sou contra o termo putaria como algo pejorativo e contra a palavra puta como xingamento. Aliás, ridículo é quando se busca uma palavra pretensamente mais rebuscada ou bonita para definir o que pode parecer, em princípio, agressivo. No caso dessas profissionais: cortesã (houve sua época), meretriz, marafona, prostituta. Soa falso e é feio. Puta é simplesmente puta. E como a sonoridade da palavra é bonita. Repete comigo, de boca cheia: PUTA. Não é gostoso dizê-lo?

Nada tenho contra elas, muito pelo contrário, aliás. Houve um período, breve, é verdade, em que utilizei-me fartamente de seus serviços e posso garantir não foi assim tão ruim. Na ocasião, inclusive, foi salvador. Essas lembranças me fazem pensar em quantos empregos essas trabalhadoras devem ter preservado ao longo de tantos anos. Afinal essa é ou não a mais antiga das profissões? Desde o tempo em que o homem era o chefe nas empresas e o provedor da casa, elas, as difamadas profissionais do sexo devem ter ajudado a manter muitos pratos cheios, alimentando diversas famílias, inclusive de suas mais vorazes críticas.

Fico imaginando o chefe saindo estressado do trabalho, enfurecido, com a certeza de demissão coletiva no dia seguinte. Aí, para preservar a família de sua fúria, resolve relaxar num puteiro qualquer. Pronto, empregos garantidos. Ou alguém duvida que isso já aconteceu inúmeras vezes?

Contra eu sou por preconceitos, por falso moralismo e por julgamentos quase sempre tão tolos como inconsistentes (voltando à campanha política: é o que mais acontece). Sabe frases como aquela “mulher de vida fácil”. Fácil? Parece fácil um homem ter que recorrer às putas? Fácil? Parece fácil deitar-se com qualquer um, ceder a caprichos, submeter-se a fetiches, realizar fantasias muitas vezes sórdidas para ganhar a vida? Sempre haverá quem diga, muitas vezes com razão, que foi escolha delas. Mas, convido à reflexão, e nossas escolhas não nos fazem também ter que aceitar certas coisas que, normalmente, não aceitaríamos? Fácil? Não. Não é fácil, mas é mais digno do que aceitar propinas, usar tráfego de influências, usar o poder alcançado para favorecimento próprio, etc. Muito mais fácil é utilizar expedientes manjados para evitar o sexo indesejado com o próprio parceiro de anos ou, em alguns casos, os parceiros de anos. E antes que me tachem de machista, vale lembrar que homens e mulheres utilizam-se desse expediente. Falo de ambos.

Mas eu gostaria de falar também de outras putas, de saudá-las. Das putas do dia-a-dia de cada um de nós, tão presentes e tão normais em nossas vidas. A palavra, tantas vezes repetidas aqui, foi muito menos escrita do que é toda dia, pronunciada, por todos nós. A palavra puta, faz tempo, deixou de ser substantivo e passou a ser adjetivo quantitativo. Já reparou?

Positiva ou negativamente é usada, indistintamente, para definir coisas grandes ou numerosas. E como se aplicam bem nessas ocasiões. Eu adoro esportes, quem acompanha esse blog deve saber disso. Não é ótimo ver uma puta jogada ou um puta jogo (a palavra também define, inalterada, substantivos masculinos). Adoro um puta livro, escrito por um puta autor, ver uma puta peça, com puta atores (define, inalterada, substantivos plurais) ou um puta filme, com uma puta fotografia de um puta diretor.

Acabei de lembrar daquelas pessoas que rejeitam o parceiro alegando uma puta dor de cabeça ou um puta cansaço. Ou do tormento que é enfrentar um puta trânsito ou uma puta fila. É.

Todas as putas são presenças constantes no nosso vocabulário, no nosso cotidiano e no nosso imaginário (de novo, falo de homens e mulheres). O que eu quis dizer com isso? Que puta dúvida e que grande filho da puta (no bom sentido, claro) eu sou. Deixo aqui, quase no final, um VIVA A TODAS AS PUTAS.

Eu gostaria de encerrar esse post de reinício com uma certeza. Que houvesse ao menos um comentário dizendo o seguinte: “PUTA TEXTO”.