“Por que me arrasto aos seus pés? Por que me dou tanto assim? E por que não peço em troca, nada de volta pra mim?...”
Se você identificou a frase introdutória desse texto como parte de uma música do Roberto Carlos. Parabéns. Você acertou em cheio. Apropriei-me devidamente (coloquei aspas, reticências e dei os devidos créditos, como manda a boa ética) do trecho inicial da música DESABAFO para a sempre difícil missão, pelo menos para mim, de começar um texto. E como pretendo aqui, nesse espaço, fazer o meu desabafo, achei justo içar parte dessa música de Roberto Carlos, até como homenagem.
Essa é, aliás, umas das muitas vantagens de se ter um blog próprio; o descompromisso com fórmulas, formatos, temas, estilos, assuntos e periodicidade. Se um dia, sinceramente nem sei mais se torço para que isso aconteça ou não, este blog ficar famoso, a liberdade que tenho hoje e que tanto prezo passaria a ficar comprometida.
Num blog como o meu em que os leitores são poucos - poucos não, raros. Raros não, raríssimos. Na verdade, único, porque cada leitor é único – o que vale mesmo é a possibilidade de mudar, experimentar. Por isso, peço licença a você, eventual leitor (a), para esse meu desabafo.
Na citada música, o rei com talento e competência (há quem discuta a qualidade artística de Roberto Carlos, mas, mesmo esses, não podem negar que há uma obra realizada e, gostem ou não – eu gosto de muita coisa - precisa ser respeitada) fala, mais uma vez, de romance, de amor e paixão, temas recorrentes em seu trabalho.
Não tenho a pretensão, claro, de me comparar a ninguém, muito menos a um rei, longe disso. Não sou dono de obra alguma (três textos de teatro - um ainda inédito - uma rádionovela, um único episódio de um seriado de TV que nunca foi ao ar, a sinopse de uma novela que jamais foi lida, um livro apenas começado, algumas péssimas poesias, poucas crônicas e contos sem qualquer repercussão, muitos roteiros musicais, direção de shows de artistas quase desconhecidos e diversos textos jornalísticos – documentários, inclusive - não constituem uma obra), mas, graças ao blog, posso falar com simplicidade das coisas que eu vejo, penso, sinto e sei.
Tenho quase meio século de vida e começo - utilizei o verbo no presente, propositalmente, por pura generosidade comigo mesmo – a sentir o peso da idade, embora ainda mantenha a garra, a inocência e a pureza de outros tempos já, há muito, idos. Às vezes sinto que envelheço sem ter amadurecido por completo.
Tal imaturidade escancara, de forma constante, grandes incômodos. O fato de, ainda ter, enorme retaguarda dos pais, de ainda buscar objetivos profissionais mais amplos, de estar longe da estabilidade financeira, muito comum em pessoas da minha idade, não deveria ser problema, mas, inevitavelmente, acaba sendo. Para sociedade. Mas quem disse que quero ser comum?
O fato é que, por tudo isso, freqüentemente, sou atormentado por um dilema: trocar a criatividade instável pela segurança medíocre? Medíocre e mentirosa. Medíocre porque quem é que pode, infeliz, realizar bem qualquer trabalho por mais digno, importante ou necessário que ele seja? Mentirosa porque é uma segurança volátil, pois em algum momento, com razão, sempre acharemos estar ganhando menos do que merecemos pelo trabalho executado.
O que eu posso fazer se é escrevendo peças, novelas e documentários, criando personagens, dirigindo shows, pesquisando músicas, produzindo espetáculos que me sinto feliz? O que posso fazer se, infelizmente, esse trabalho ainda não me dá, financeiramente, tudo o que preciso e tudo o que esperam de mim?
Quantas vezes, como agora, já não me peguei pensando em abdicar desses dez anos de investimento numa carreira e buscar um respeitável emprego formal? Conciliar as duas coisas é uma solução correta, eu sei. O que mais me entristece, porém, não é a dúvida, até porque ela não existe. O que me incomoda é o incômodo que essa postura causa nas pessoas. Sinto-me desrespeitado. Sou visto como sonhador, acomodado ou, o que é pior, vagabundo.
O caminho que escolhi, tenho certeza, vai render muitos frutos e todos os que me cercam poderão saboreá-los, basta paciência porque, sei também, o caminho é longo e a caminhada, lenta. Carrego na bagagem os pesados fardos da dignidade, do respeito, da honestidade, da lealdade, da decência, da dedicação e da ética.
Não quero, mas, ando pensando, outra vez, em utilizar o primeiro atalho que culmine na tal da segurança, porque com quase meio século vivido, temo que as pernas não suportem o esforço em carregar o terrível peso extra, dos quais quero me livrar o mais rapidamente possível, que, com o passar do tempo, vem sendo acrescentado à minha bagagem; a pressão e as cobranças.
Eis aqui um simples DESABAFO
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
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