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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

UM VIVA A TODAS AS PUTAS


Depois de prolongada e proposital ausência para algumas reflexões – estava achando que este blog, ainda que seja chamado de incômodos e dê voz aos meus inconformismos, andava um tanto quanto azedo, mal humorado, ácido demais, chato mesmo - resolvi voltar agora, espero, mais revigorado, arejado. Estava sentindo falta.

Por mero acaso esse retorno se dá num momento em que a sucessão política é o assunto mais comentado em todos os cantos, em todas as rodas. Nada diferente.

De dois em dois anos a ladainha é sempre a mesma e, na prática, muito pouco ou quase nada muda. Essa é a minha opinião.
E foi essa conclusão que originou o texto que se segue e que dá reinício ao blog.

Tenho visto de tudo nessa campanha, absurdos antes incalculáveis (logo se vê que, pelo menos, alguma coisa mudou sim). Palhaços com e sem maquiagem fazendo do horário político um picadeiro, pseudos artistas tentando brilhar nos holofotes da eleição, respeitados artistas trocando a própria história por mais cinco minutos de fama, ex-atletas tentando novas jogadas ou velhos golpes, travestis e homossexuais sem seriedade com falsos discursos de libertação, negros usando a cor da pele como moeda de troca e tradicionais políticos venais se engalfinhando com aliados de ontem e de amanhã.

Só não vejo putas em campanha pedindo seu voto por que são putas. E olha que elas bem que poderiam utilizar-se desse expediente, uma vez que a campanha é uma zona e nossa política uma putaria. Deve haver e certamente há putas na disputa, mas elas me parecem mais dignas.

Sou contra o termo putaria como algo pejorativo e contra a palavra puta como xingamento. Aliás, ridículo é quando se busca uma palavra pretensamente mais rebuscada ou bonita para definir o que pode parecer, em princípio, agressivo. No caso dessas profissionais: cortesã (houve sua época), meretriz, marafona, prostituta. Soa falso e é feio. Puta é simplesmente puta. E como a sonoridade da palavra é bonita. Repete comigo, de boca cheia: PUTA. Não é gostoso dizê-lo?

Nada tenho contra elas, muito pelo contrário, aliás. Houve um período, breve, é verdade, em que utilizei-me fartamente de seus serviços e posso garantir não foi assim tão ruim. Na ocasião, inclusive, foi salvador. Essas lembranças me fazem pensar em quantos empregos essas trabalhadoras devem ter preservado ao longo de tantos anos. Afinal essa é ou não a mais antiga das profissões? Desde o tempo em que o homem era o chefe nas empresas e o provedor da casa, elas, as difamadas profissionais do sexo devem ter ajudado a manter muitos pratos cheios, alimentando diversas famílias, inclusive de suas mais vorazes críticas.

Fico imaginando o chefe saindo estressado do trabalho, enfurecido, com a certeza de demissão coletiva no dia seguinte. Aí, para preservar a família de sua fúria, resolve relaxar num puteiro qualquer. Pronto, empregos garantidos. Ou alguém duvida que isso já aconteceu inúmeras vezes?

Contra eu sou por preconceitos, por falso moralismo e por julgamentos quase sempre tão tolos como inconsistentes (voltando à campanha política: é o que mais acontece). Sabe frases como aquela “mulher de vida fácil”. Fácil? Parece fácil um homem ter que recorrer às putas? Fácil? Parece fácil deitar-se com qualquer um, ceder a caprichos, submeter-se a fetiches, realizar fantasias muitas vezes sórdidas para ganhar a vida? Sempre haverá quem diga, muitas vezes com razão, que foi escolha delas. Mas, convido à reflexão, e nossas escolhas não nos fazem também ter que aceitar certas coisas que, normalmente, não aceitaríamos? Fácil? Não. Não é fácil, mas é mais digno do que aceitar propinas, usar tráfego de influências, usar o poder alcançado para favorecimento próprio, etc. Muito mais fácil é utilizar expedientes manjados para evitar o sexo indesejado com o próprio parceiro de anos ou, em alguns casos, os parceiros de anos. E antes que me tachem de machista, vale lembrar que homens e mulheres utilizam-se desse expediente. Falo de ambos.

Mas eu gostaria de falar também de outras putas, de saudá-las. Das putas do dia-a-dia de cada um de nós, tão presentes e tão normais em nossas vidas. A palavra, tantas vezes repetidas aqui, foi muito menos escrita do que é toda dia, pronunciada, por todos nós. A palavra puta, faz tempo, deixou de ser substantivo e passou a ser adjetivo quantitativo. Já reparou?

Positiva ou negativamente é usada, indistintamente, para definir coisas grandes ou numerosas. E como se aplicam bem nessas ocasiões. Eu adoro esportes, quem acompanha esse blog deve saber disso. Não é ótimo ver uma puta jogada ou um puta jogo (a palavra também define, inalterada, substantivos masculinos). Adoro um puta livro, escrito por um puta autor, ver uma puta peça, com puta atores (define, inalterada, substantivos plurais) ou um puta filme, com uma puta fotografia de um puta diretor.

Acabei de lembrar daquelas pessoas que rejeitam o parceiro alegando uma puta dor de cabeça ou um puta cansaço. Ou do tormento que é enfrentar um puta trânsito ou uma puta fila. É.

Todas as putas são presenças constantes no nosso vocabulário, no nosso cotidiano e no nosso imaginário (de novo, falo de homens e mulheres). O que eu quis dizer com isso? Que puta dúvida e que grande filho da puta (no bom sentido, claro) eu sou. Deixo aqui, quase no final, um VIVA A TODAS AS PUTAS.

Eu gostaria de encerrar esse post de reinício com uma certeza. Que houvesse ao menos um comentário dizendo o seguinte: “PUTA TEXTO”.

4 comentários:

  1. Adorei seu texto.
    E digo: Viva a todas as putas.

    No caso da política, eu acho que falta a responsabilidade, comprometimento e ética da Putas.

    É acho que a política poderia aprender algo com elas...

    Ah! Puta texto, rs.

    Abraços.

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  2. Oi, André! Obrigado pelo comentário. Fico feliz por um blog tão humilde ter sido comentado por você um blogueiro dos bons.

    Valeu mesmo

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  3. Américo, sem medo de errar te digo: que puta texto!!! Sabe, quando leio algo, observo, basicamente 2 coisas: o que foi dito e como foi dito. É preciso ter o que dizer pra que um texto seja iniciado. Vc tinha o que dizer e o fez com maestria. Um prazer pra mim!!! Sabe, pra terminar falta dizer: vc é um puta escritor!!!

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