O assunto hoje é gente. Aliás eu só falo de gente. E embora eu pareça voraz, mordaz, severo, intransigente, rígido, implacável (pode escolher) na verdade, acho, sou mesmo um otimista. Gosto muito mais de gente do que de coisas e por isso é esse o meu assunto preferido.
A única certeza que eu tenho, além da morte, é a de que tudo na vida é cíclico e esta é razão para que eu tenha convicção que é hora de voltarmos a evoluir. Não é possível que se possa regredir ainda mais.
Atônito, tenho sido testemunha de uma lenta e gradual transformação, para pior, nas pessoas, em seus sentimentos, em seus pensamentos e, sobretudo, em suas relações. A palavra é intolerância. Puxa!!!! Como estamos intolerantes com tudo e com todos. Não. Não me sinto, nem quero me sentir um velho, mas cada vez que penso em algo que me incomoda me pego pensando em coisas do tipo: no meu tempo as coisas não eram assim. Meu tempo? Meu tempo não é agora também? Sei lá. Aprendi as coisas de maneira diferente.
No meu tempo, por exemplo, era possível decidir visitar alguém sem ter que avisar antes. Sabe o que acontecia? Recepção alegre e calorosa. E ninguém ou quase ninguém colocava escondido, nessas ocasiões, vassouras viradas atrás de portas. O inconveniente era a possibilidade de não encontrar ninguém em casa. “Devem ter ido visitar alguém” era o comentário frustrado e compreensivo que se fazia. Aí era decidir voltar para casa ou visitar outro alguém. Soube de muitos desencontros provocados por visitas em comum. Uma família não encontrava a outra porque resolveram se visitar.
Eu sei que sempre haverá quem ache que hoje em dia é melhor. É mais educado perguntar se a visita é possível. A resposta, no mais das vezes, é negativa. Receber hoje é um saco. Visitar também.
Sou do tempo em que era comum, amigos armarem uma presepada qualquer, por pura diversão, para outro amigo (sem que esse estivesse esperando, claro) e continuarem amigos pelo resto da vida. Ninguém se ofendia e o gostoso era pensar no “troco”.
Sou do tempo em que as famílias se reuniam ao redor da mesa em cada refeição e conversavam sobre planos para a vida ou relatavam os fatos do dia e depois, todos juntos, assistiam a novela do momento.
Sou do tempo em que ir ao estádio de futebol torcer para o seu time era ato de confraternização, inclusive com o torcedor do time adversário.Sentávamos lado a lado, acredita? Adversário era apenas adversário e não inimigo.
Por falar nisso, sou do tempo em que briga de turma era rivalidade de bairros vizinhos. Gritos e palavrões eram as armas usadas. Os poucos hematomas eram curados, no dia seguinte, num bar qualquer de um dos bairros, com cerveja e muita risada, em companhia do agressor.
Sou do tempo em que ligar para alguém significava falar com esse alguém, mesmo que ele fosse desconhecido, não com máquinas e gravações. Era muito mais fácil falar com qualquer pessoa antes da invenção do celular. Não acha?
No meu tempo pedir a mão na namorada era ato distinto, de elegância, educação, de seriedade. Não significava como hoje "pagar mico".
Sou do tempo, enfim, em que não havia nada mais romântico do que uma serenata. O único e divertido risco que se corria era banho de água fria. Todos se fingiam ofendidos, mas dormiam em paz, sem raiva, ódio ou rancor. Hoje, infelizmente, só SERENATA VIRTUAL e, ainda assim, apenas até uma da manhã, sem cigarro, sem álcool e sem música.
Saudade de quando o mundo era em preto e branco. As cores só serviram para pintar a intolerância.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
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