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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

MAIS DO MESMO

Os assuntos sobre os quais escrevo nesse blog surgem, sempre sem querer, nas conversas informais, regadas à álcool, com amigos, nas poucas horas de lazer que tenho conseguido desfrutar.
Chego a pensar que gosto de criar polêmica e, com isso, ter assuntos para debater. Gosto mesmo. Mas, mais que isso, tenho necessidade de ser sincero, honesto comigo mesmo, transparente e simples. Simples no sentido de descomplicado. Temos, todos nós, uma tendência a complicar as coisas.
Estamos na era do politicamente correto, não é?  Vejo, até com certo regojizo, o esforço das pessoas para, em público, passar uma imagem politicamente correta e, em geral, mentirosa sobre fatos tão banais. 

Algumas semanas afastado (já expliquei por que isso ocorre) e muitos assuntos surgiram nos “botecos da vida”, adiando o texto um pouco mais. Fiquei em dúvida sobre qual deles eu queria abordar. Até que resolvi abordar numa mesma crônica todos eles, que são, em última análise, a mesma coisa. Será apenas um pouco MAIS DO MESMO de sempre, o meu assunto preferido: COMPORTAMENTO.  

Interessante e engraçado, por exemplo, o nojo que as pessoas sentem (será que sentem mesmo?), quando, em qualquer refeição, surgem assuntos como vômito, diarréia, flatulência, enjôos, chulé, mau hálito, arrotos, essas coisas. As pessoas, estranhamente para mim, quase vomitam ali mesmo tendo, muitas vezes, chiliques e implorando para mudarem de assunto. Até concordo que é deselegante, mas é tão normal. Não se preocupem comigo, na minha frente, mesmo na hora que eu estiver comendo, podem falar à vontade, não tem problema, não terei nojo. Agora, se o assunto for corrupção, fraudulência, extorsão, ou coisas do tipo, assuntos normais para a maioria, aí sim, perco a fome e sou capaz até de ter os mesmos chiliques. Isso é ainda mais deselegante numa mesa, na hora sagrada da alimentação. Prefiro a escatologia. É muito mais divertido.

Outro dia, numa dessas conversas, contei para uma amiga que uma veterana atriz que gravava uma cena ao meu lado, se desculpou comigo pelo “punzinhos” (expressão dela mesmo) que estava dando. Acredita que essa amiga ficou indignada? Eu achei divertidíssimo: os puns e a indignação. Em primeiro lugar por causa da atriz que não precisaria se justificar. Eu não havia percebido. As cenas eram externas e o eventual mau cheiro se dilua no ar e depois por causa do desprendimento. Quando se está com 80 anos, deixam-se de lado certas bobagens. Achei o maior barato. Ah! No fim convenci a amiga de que há situações e situações. A deliciosa velhinha não poderia, como me foi sugerido pela amiga, fazer o que qualquer pessoa bem educada, segundo ela, teria feito. Ir ao banheiro para soltar os tais “punzinhos”. Oras! Estávamos gravando, como eu disse, cenas externas num jardim, repetidas vezes para aproveitar a luz natural. O banheiro era distante, o figurino pesado, estava "microfonada" sob todo o figurino e, ainda por cima, havia as dificuldades de locomoção (pela idade). Eu pergunto: Uma pessoa bem educada vai ao banheiro para peidar mesmo nessas condições? Sempre? Você faz isso? Sei. Você é um abnegado (a).


O outro assunto sobre o qual eu gostaria de comentar é início de namoro. Conversei bastante a respeito e cheguei a uma conclusão surpreendente para os outros. Não tem coisa mais gostosa que começo de namoro. Mais gostosa e mais falsa. Não há no mundo nada mais perdoavelmente falso que um casal em começo de namoro. As juras de amor eterno que ambos fazem todos os dias são muito mentirosas. Vinicius de Moraes cantava para cada nova namorada (foram muitas) “Eu sei que vou te amar/por toda a minha vida/vou te amar” Como era falso o poetinha... Enfim, começo de namoro é recheado de falsas condutas. Quer ver? No começo de namoro, para “abater” sua presa você faz tantas concessões e depois, com o tempo, tem dificuldades de se livrar delas. São concessões que jamais você deveria ter feito porque será cobrado eternamente.
No começo de namoro, para agradar o parceiro, você até vai a um concerto de cordas, mesmo que no seu íntimo, seu desejo fosse se empanturrar de carne e cerveja numa churrascaria boa e barata qualquer. Mas no começo de namoro você vai ao concerto não porque te agrada. Agradável foi estar ao lado da pessoa amada. Depois da conquista efetivada, porém, você volta a ser você mesmo e agradável é fazer o que você gosta, se possível, ao lado da pessoa amada. Para seu consolo, entretanto, você  também fará cobranças em cima das concessões que o outro fez. E assim o casal permanece feliz até que a próxima crise apareça. Mentira? Sei. Você é um abnegado.


Já que o assunto é casal quero falar um pouco desse divertido jogo entre homens e mulheres. Se tem uma coisa que eu, definitivamente, não entendo são as mulheres. Porque elas não aceitam que a coisa mais normal para os homens latinos, principalmente os brasileiros, é olhar para a bunda de uma mulher quando ela passa por nós? Bobagem delas.
Não é cobiça, não é desejo, não é cantada, não é tara. É apenas aquela ingênua “conferida”. É uma coisa cultural, natural. É coisa que se aprende desde criancinha, com o pai, com os amigos, com os amigos do pai, com os pais dos amigos, com o avô.
Você está lá com os amigos e com os pais numa conversa animada sobre qualquer assunto sem importância, aí passa uma nem sempre bela mulher. A conversa para, todos dão aquela famosa “olhadela” e depois a conversa continua como se não tivesse havido a pausa. Normal. A criança aprende isso antes mesmo de aprender a andar ou falar e fica automático. Né, não?
Se eu fosse brigar com todo homem que olhou para a bunda das mulheres que tive quando elas passavam eu já teria brigado com metade dos homens da cidade. A outra metade teria brigado comigo porque me pegaram olhando para a bunda da mulher deles. Já deve ter acontecido diversas vezes olhares cruzados. E chumbo trocado não dói.
Outra coisa que mulher nega é que percebe quando um homem olha para a bunda dela depois que ela passou. Elas negam, mas nenhuma me convence. Sempre dizem: “Não tenho olhos nas costas”, “Estou preocupada com outras coisas”, “É pensamento de homem”. Sei. Elas são umas abnegadas.
Elas percebem sim. Sabem que eles vão olhar e querem que eles olhem. É cultural também. Aprendem desde cedo com a mãe. Mentira? Então porque rebolam mais depois que o homem olha? E quando, por qualquer razão, eles não olham, elas ficam “putas”. Não admitem, mas ficam. Como eu não gosto de ver mulher nervosa eu olho sempre. A minha sabe.


Quem não olharia?
 

Para evitar que o texto fique ainda mais longo e chato vou encerrar com um assunto que tem me incomodado profundamente. As pessoas se referirem com desdém aos homens que foram criados pela avó. Eu, em boa parte, fui criado pela minha vó. Que saudade da velhinha. Carinho, afeto e amor nunca prejudicam, apenas causam inveja a quem não tem ou não teve. Não sou menos homem porque meus avós ajudaram na minha criação, não seria mais se tivesse me criado sozinho, nas ruas. Meus pais e meus avós me passaram noções claras de dignidade, bondade, respeito, as mesmas que junto com meus pais tento passar às minhas filhas. Nunca defendi grandes causas, mas nunca tive vontade de cuspir na cara de quem não concorda comigo. O que é mais digno? Eu sei, eu sei. Eu sou um abnegado.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

SINAIS DO TEMPO


Flávia Alessandra
Acabo de completar quarenta e nove anos de vida. Um menino ainda. Ainda capaz de sonhar, ainda capaz de pensar, ainda capaz de se emocionar, ainda capaz de apostar na humanidade, ainda capaz de desejar mudanças.

Mudanças? Nesse tempo todo, a informação mais importante e recorrente que recebi é de que “O mundo mudou mais nos últimos setenta anos do que em toda a existência”. O que pensar diante disso? Que sou um privilegiado por ter vivido a minha vida toda como testemunha ocular dessas mudanças ou mais uma vítima delas que só percebo que chegaram quando já são ultrapassadas? Saber que o processo de mudança é tão rápido me deixa, acredito, mais impotente diante das mudanças.


E as coisas aconteceram mesmo numa velocidade estonteante. Cada um de nós poderia, sem medo de errar, fazer uma extensa lista diferente das coisas que mudaram.


Na minha, por exemplo, estariam o penta campeonato mundial da seleção brasileira de futebol, a chegada do homem à lua, o resgate de homens (mineiros chilenos) do inferno, a eleição de um presidente negro num país racista fora da África, o fato de pelo menos dois operários terem conseguido se tornar presidentes em seus países (nesse caso, particularmente, tendo a acreditar que fui mais vítima do que privilegiado), o surgimento da internet (que revolucionou as comunicações), da TV a cabo, do telefone celular, do Axé Music (vixe!!!), da “digitalidade”, da progressão continuada (cruz credo), da criação do BBB, do Orkut, Face Book, Twitter, dos Blogs. Enfim, a lista não acaba. Mudou a estética (para pior, pelo menos aqui em solo tupiniquim).


Mas eu gostaria de falar sobre o que não mudou. Sobre coisas que não mudam nunca. A lista também é extensa: a corrupção, as cantadas (apelido politicamente correto para assédio sexual), a mídia exercendo seu poder, a bunda da Gretchen, o nariz do Luciano Huck, a sabedoria popular.


Sabedoria popular que aliás foi algo que sempre me encantou pela simplicidade (é, em síntese, sintética) e, sobretudo, porque é definitiva e, por incrível que pareça, quase sempre, conclusiva.


Convivi desde muito criança com frases surgidas do povo: “O mundo mudou mais nos últimos setenta anos do que em toda a existência”, “deve-se separar o joio do trigo”, “cavalo dado não se olha os dentes”, “amanhã é outro dia (essa é ótima)”, “o trabalho dignifica o homem”, “Deus é sábio”

Deus é sábio mesmo e nos dá vitalidade na juventude e experiência com o tempo. Imagine tudo junto. Consegue? Eu consigo. Imagino-me hoje com a vitalidade dos vinte, o dinheiro dos trinta, a cabeça do quarenta e a experiência atual.

A vitalidade perdi em parte, o dinheiro perdi por completo e é a experiência que me faz não perder a cabeça. Voltando ao começo desse texto, ainda me sinto um menino. Ainda capaz de fazer listas, ainda capaz de eleger musas. Sempre temos as musas (as mulheres devem ter seus “musos”, não é?). E se tem uma coisa que não muda é a idade das musas. Eu envelheço, elas não.

Na infância, por exemplo, em meus devaneios masturbatórios as musas eram a Vera Fischer, a Sônia Braga, a Maria Cláudia, a Angelina Muniz (Será que é possível isso? Ela depois que se tornou minha amiga deixou de fazer parte dessa lista, embora tenha feito antes) e a Rose di Primo (Alguém lembra dela? Eu jamais esqueci).

Na adolescência as musas passaram a ser a Christiane Torloni, a Lucélia Santos, a Luma de Oliveira, a Luisa Brunet, a Lídia Brondi (saudades da Lídia). Depois veio a Tiazinha (por onde anda mesmo a Tiazinha, hein?).

Hoje elas são a Mariana Ximenes, a Juliana Paes, a Deborah Secco, a Ana Paula Arósio e a Flávia Alessandra. Aiiii!!!, a Flávia Alessandra.
Deus é sábio, mas não é justo. Por mim a Flávia Alessandra não deveria envelhecer nunca. É....tudo muda, as musas mudam. Isso incomoda.
Sinais do tempo. 


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

SERENATA VIRTUAL

O assunto hoje é gente. Aliás eu só falo de gente. E embora eu pareça voraz, mordaz, severo, intransigente, rígido, implacável (pode escolher) na verdade, acho, sou mesmo um otimista. Gosto muito mais de gente do que de coisas e por isso é esse o meu assunto preferido.


A única certeza que eu tenho, além da morte, é a de que tudo na vida é cíclico e esta é razão para que eu tenha convicção que é hora de voltarmos a evoluir. Não é possível que se possa regredir ainda mais.


Atônito, tenho sido testemunha de uma lenta e gradual transformação, para pior, nas pessoas, em seus sentimentos, em seus pensamentos e, sobretudo, em suas relações. A palavra é intolerância. Puxa!!!! Como estamos intolerantes com tudo e com todos. Não. Não me sinto, nem quero me sentir um velho, mas cada vez que penso em algo que me incomoda me pego pensando em coisas do tipo: no meu tempo as coisas não eram assim. Meu tempo? Meu tempo não é agora também? Sei lá. Aprendi as coisas de maneira diferente.


No meu tempo, por exemplo, era possível decidir visitar alguém sem ter que avisar antes. Sabe o que acontecia? Recepção alegre e calorosa. E ninguém ou quase ninguém colocava escondido, nessas ocasiões, vassouras viradas atrás de portas. O inconveniente era a possibilidade de não encontrar ninguém em casa. “Devem ter ido visitar alguém” era o comentário frustrado e compreensivo que se fazia. Aí era decidir voltar para casa ou visitar outro alguém. Soube de muitos desencontros provocados por visitas em comum. Uma família não encontrava a outra porque resolveram se visitar.


Eu sei que sempre haverá quem ache que hoje em dia é melhor. É mais educado perguntar se a visita é possível. A resposta, no mais das vezes, é negativa. Receber hoje é um saco. Visitar também.


Sou do tempo em que era comum, amigos armarem uma presepada qualquer, por pura diversão, para outro amigo (sem que esse estivesse esperando, claro) e continuarem amigos pelo resto da vida. Ninguém se ofendia e o gostoso era pensar no “troco”.


Sou do tempo em que as famílias se reuniam ao redor da mesa em cada refeição e conversavam sobre planos para a vida ou relatavam os fatos do dia e depois, todos juntos, assistiam a novela do momento.


Sou do tempo em que ir ao estádio de futebol torcer para o seu time era ato de confraternização, inclusive com o torcedor do time adversário.Sentávamos lado a lado, acredita? Adversário era apenas adversário e não inimigo.


Por falar nisso, sou do tempo em que briga de turma era rivalidade de bairros vizinhos. Gritos e palavrões eram as armas usadas. Os poucos hematomas eram curados, no dia seguinte, num bar qualquer de um dos bairros, com cerveja e muita risada, em companhia do agressor.


Sou do tempo em que ligar para alguém significava falar com esse alguém, mesmo que ele fosse desconhecido, não com máquinas e gravações. Era muito mais fácil falar com qualquer pessoa antes da invenção do celular. Não acha?


No meu tempo pedir a mão na namorada era ato distinto, de elegância, educação, de seriedade. Não significava como hoje "pagar mico".


Sou do tempo, enfim, em que não havia nada mais romântico do que uma serenata. O único e divertido risco que se corria era banho de água fria. Todos se fingiam ofendidos, mas dormiam em paz, sem raiva, ódio ou rancor. Hoje, infelizmente, só SERENATA VIRTUAL e, ainda assim, apenas até uma da manhã, sem cigarro, sem álcool e sem música.


Saudade de quando o mundo era em preto e branco. As cores só serviram para pintar a intolerância.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

UM VIVA A TODAS AS PUTAS


Depois de prolongada e proposital ausência para algumas reflexões – estava achando que este blog, ainda que seja chamado de incômodos e dê voz aos meus inconformismos, andava um tanto quanto azedo, mal humorado, ácido demais, chato mesmo - resolvi voltar agora, espero, mais revigorado, arejado. Estava sentindo falta.

Por mero acaso esse retorno se dá num momento em que a sucessão política é o assunto mais comentado em todos os cantos, em todas as rodas. Nada diferente.

De dois em dois anos a ladainha é sempre a mesma e, na prática, muito pouco ou quase nada muda. Essa é a minha opinião.
E foi essa conclusão que originou o texto que se segue e que dá reinício ao blog.

Tenho visto de tudo nessa campanha, absurdos antes incalculáveis (logo se vê que, pelo menos, alguma coisa mudou sim). Palhaços com e sem maquiagem fazendo do horário político um picadeiro, pseudos artistas tentando brilhar nos holofotes da eleição, respeitados artistas trocando a própria história por mais cinco minutos de fama, ex-atletas tentando novas jogadas ou velhos golpes, travestis e homossexuais sem seriedade com falsos discursos de libertação, negros usando a cor da pele como moeda de troca e tradicionais políticos venais se engalfinhando com aliados de ontem e de amanhã.

Só não vejo putas em campanha pedindo seu voto por que são putas. E olha que elas bem que poderiam utilizar-se desse expediente, uma vez que a campanha é uma zona e nossa política uma putaria. Deve haver e certamente há putas na disputa, mas elas me parecem mais dignas.

Sou contra o termo putaria como algo pejorativo e contra a palavra puta como xingamento. Aliás, ridículo é quando se busca uma palavra pretensamente mais rebuscada ou bonita para definir o que pode parecer, em princípio, agressivo. No caso dessas profissionais: cortesã (houve sua época), meretriz, marafona, prostituta. Soa falso e é feio. Puta é simplesmente puta. E como a sonoridade da palavra é bonita. Repete comigo, de boca cheia: PUTA. Não é gostoso dizê-lo?

Nada tenho contra elas, muito pelo contrário, aliás. Houve um período, breve, é verdade, em que utilizei-me fartamente de seus serviços e posso garantir não foi assim tão ruim. Na ocasião, inclusive, foi salvador. Essas lembranças me fazem pensar em quantos empregos essas trabalhadoras devem ter preservado ao longo de tantos anos. Afinal essa é ou não a mais antiga das profissões? Desde o tempo em que o homem era o chefe nas empresas e o provedor da casa, elas, as difamadas profissionais do sexo devem ter ajudado a manter muitos pratos cheios, alimentando diversas famílias, inclusive de suas mais vorazes críticas.

Fico imaginando o chefe saindo estressado do trabalho, enfurecido, com a certeza de demissão coletiva no dia seguinte. Aí, para preservar a família de sua fúria, resolve relaxar num puteiro qualquer. Pronto, empregos garantidos. Ou alguém duvida que isso já aconteceu inúmeras vezes?

Contra eu sou por preconceitos, por falso moralismo e por julgamentos quase sempre tão tolos como inconsistentes (voltando à campanha política: é o que mais acontece). Sabe frases como aquela “mulher de vida fácil”. Fácil? Parece fácil um homem ter que recorrer às putas? Fácil? Parece fácil deitar-se com qualquer um, ceder a caprichos, submeter-se a fetiches, realizar fantasias muitas vezes sórdidas para ganhar a vida? Sempre haverá quem diga, muitas vezes com razão, que foi escolha delas. Mas, convido à reflexão, e nossas escolhas não nos fazem também ter que aceitar certas coisas que, normalmente, não aceitaríamos? Fácil? Não. Não é fácil, mas é mais digno do que aceitar propinas, usar tráfego de influências, usar o poder alcançado para favorecimento próprio, etc. Muito mais fácil é utilizar expedientes manjados para evitar o sexo indesejado com o próprio parceiro de anos ou, em alguns casos, os parceiros de anos. E antes que me tachem de machista, vale lembrar que homens e mulheres utilizam-se desse expediente. Falo de ambos.

Mas eu gostaria de falar também de outras putas, de saudá-las. Das putas do dia-a-dia de cada um de nós, tão presentes e tão normais em nossas vidas. A palavra, tantas vezes repetidas aqui, foi muito menos escrita do que é toda dia, pronunciada, por todos nós. A palavra puta, faz tempo, deixou de ser substantivo e passou a ser adjetivo quantitativo. Já reparou?

Positiva ou negativamente é usada, indistintamente, para definir coisas grandes ou numerosas. E como se aplicam bem nessas ocasiões. Eu adoro esportes, quem acompanha esse blog deve saber disso. Não é ótimo ver uma puta jogada ou um puta jogo (a palavra também define, inalterada, substantivos masculinos). Adoro um puta livro, escrito por um puta autor, ver uma puta peça, com puta atores (define, inalterada, substantivos plurais) ou um puta filme, com uma puta fotografia de um puta diretor.

Acabei de lembrar daquelas pessoas que rejeitam o parceiro alegando uma puta dor de cabeça ou um puta cansaço. Ou do tormento que é enfrentar um puta trânsito ou uma puta fila. É.

Todas as putas são presenças constantes no nosso vocabulário, no nosso cotidiano e no nosso imaginário (de novo, falo de homens e mulheres). O que eu quis dizer com isso? Que puta dúvida e que grande filho da puta (no bom sentido, claro) eu sou. Deixo aqui, quase no final, um VIVA A TODAS AS PUTAS.

Eu gostaria de encerrar esse post de reinício com uma certeza. Que houvesse ao menos um comentário dizendo o seguinte: “PUTA TEXTO”.

quinta-feira, 4 de março de 2010

MENTIRAS SINCERAS ME INTERESSAM


O menos brilhante (na minha modesta opinião) entre os mais brilhantes compositores da música brasileira – e olhe que isto não é demérito algum, porque apesar de considerá-lo inferior aos demais, ainda assim classifico-o como um dos melhores – é o autor da mais bem sacada frase da MPB. Simplesmente fantástica.
Falo, claro, de Cazuza, responsável pela frase MENTIRAS SINCERAS ME INTERESSAM, inserida na letra da, se não me engano, música “Maior Abandonado”. Outro dia, sem querer, me vi cantando insistentemente essa frase. Sabe aqueles dias quando repetimos exaustivamente, cantarolando, uma única frase de uma música? Quando me dei conta, já estava pensando sobre o significado de tal frase. Descobri, quase divertido, quantas vezes, num mesmo dia, ouvimos - e o que é pior - falamos uma mentira sincera. Refleti, também, sobre o que seria uma mentira sincera e cheguei a conclusão que mentira sincera é quando sabemos que estamos mentindo, mas o fazemos com tanta naturalidade que o interlocutor acredita. Não. É mais que isso. É quando nós mesmos acreditamos.
Em seguida comecei a listar algumas dessas mentiras sinceras. Me permito, até por humildade, citar abaixo apenas algumas delas. As mais comuns e menos graves.
Já ouviu alguma dessas frases? Em algum momento já a utilizou? Quando foi a última vez que se deparou - ouvindo ou dizendo - as frase abaixo?“
"Segunda-feira, sem falta eu começo meu regime” - “Vou procurar uma academia e começar a malhar” - (No celular) “Já estou bem pertinho. Já, já, estou chegando” - “Eu não tinha essa intenção” - “Eu estava justamente pensando nisso” - “Pensei que tivesse te dito” - “Já acordei faz tempo” - "Precisamos marcar um cafezinho” - “Nunca ouvi falar” - "Nunca ouvi tamanha besteira" - “Eu posso explicar” - "Isso nunca me aconteceu antes” - “Não sei porque eu fiz isso” - “Vou fazer o possível para ir” - (Atendendo um telefonema) “Não está. Quem queria falar?” - “Dia desses sonhei com você” - “Como eu posso lembrar o que eu disse?” - “Ia te ligar agorinha mesmo” - “Eu não vi seu recado” - "Reformatei meu computador e perdi todos os seus contatos” - “Infelizmente não deu” - “Tenho outro compromisso no mesmo dia e na mesma hora” - "De hoje não passa” - “Tá bom. De agora em diante eu não te falo mais nada” - “Não quero mais saber de você nunca mais” -"Eu liguei, mas seu telefone só dava ocupado” E a pior de todas - “Eu não assisto BBB”
Eu sei, esse blog é destinado para falar dos meus incômodos. E você deve estar se perguntando o que me incomoda nesse tema. Eu respondo. Não são as mentiras que eu digo que me incomodam. Também não são as mentiras que eu ouço que me incomodam. O que me incomoda é as pessoas acreditarem na mentira dos outros. Verdade...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

GANHAR OU CONQUISTAR?

Passadas as festas de fim de ano, lentamente a vida vai voltando ao normal. Já reparou como no fim do ano o mundo pára e as pessoas correm, freneticamente, com o objetivo de realizar tarefas que, caso não corressem tanto, fariam mais rápido e melhor? Aliás, interessante como nessa coisa de tempo, o fim vem antes do começo. Mas, estamos entrando já na terceira semana do novo ano e tudo volta quase ao normal, afinal, o carnaval se aproxima e depois de sua passagem, sim, o ano começa efetivamente. Um ano atípico, é bom que se ressalte. Copa do Mundo seguida de eleições gerais faz do ano, um ano bissexto. Normal.
Pena que o normal hoje seja tão diferente e tão pior do que já foi. As pessoas estão cada vez mais individualistas e, por isso mesmo, cada vez mais isoladas. Uma única preocupação habita a cabeça de todos: ganhar. Ganhar tempo para ganhar dinheiro, ganhar dinheiro para ganhar tempo para correr atrás de mais dinheiro e com ele ter mais tempo. Percebo que quanto mais essa preocupação aumenta, mais tempo falta e mais dinheiro se necessita.
As contas vencem e a desculpa, justa, real, é que elas não esperam. Não esperam mesmo, elas também, como todo o mais, tem pressa. Mas será que todas elas são necessárias? É a pergunta que me faço. Não sou saudosista, ou melhor, sou sim. Tenho saudades de uma época em que o objetivo eram as conquistas, não o dinheiro.
Hoje não se investe em gente, não se aposta em pessoas, não há tempo para isso. Como diz a música, é cada um no seu quadrado. Quadrados que não se juntam, quadrados que não se completam. Não há tempo para isso, porque, o que se quer é somente aumentar o próprio quadrado.
Será que as pessoas vão voltar a ter consciência que conquistar é muito mais importante do que ganhar? Será que elas sabem a diferença?

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

DESABAFO

“Por que me arrasto aos seus pés? Por que me dou tanto assim? E por que não peço em troca, nada de volta pra mim?...”



Se você identificou a frase introdutória desse texto como parte de uma música do Roberto Carlos. Parabéns. Você acertou em cheio. Apropriei-me devidamente (coloquei aspas, reticências e dei os devidos créditos, como manda a boa ética) do trecho inicial da música DESABAFO para a sempre difícil missão, pelo menos para mim, de começar um texto. E como pretendo aqui, nesse espaço, fazer o meu desabafo, achei justo içar parte dessa música de Roberto Carlos, até como homenagem.

Essa é, aliás, umas das muitas vantagens de se ter um blog próprio; o descompromisso com fórmulas, formatos, temas, estilos, assuntos e periodicidade. Se um dia, sinceramente nem sei mais se torço para que isso aconteça ou não, este blog ficar famoso, a liberdade que tenho hoje e que tanto prezo passaria a ficar comprometida.

Num blog como o meu em que os leitores são poucos - poucos não, raros. Raros não, raríssimos. Na verdade, único, porque cada leitor é único – o que vale mesmo é a possibilidade de mudar, experimentar. Por isso, peço licença a você, eventual leitor (a), para esse meu desabafo.

Na citada música, o rei com talento e competência (há quem discuta a qualidade artística de Roberto Carlos, mas, mesmo esses, não podem negar que há uma obra realizada e, gostem ou não – eu gosto de muita coisa - precisa ser respeitada) fala, mais uma vez, de romance, de amor e paixão, temas recorrentes em seu trabalho.

Não tenho a pretensão, claro, de me comparar a ninguém, muito menos a um rei, longe disso. Não sou dono de obra alguma (três textos de teatro - um ainda inédito - uma rádionovela, um único episódio de um seriado de TV que nunca foi ao ar, a sinopse de uma novela que jamais foi lida, um livro apenas começado, algumas péssimas poesias, poucas crônicas e contos sem qualquer repercussão, muitos roteiros musicais, direção de shows de artistas quase desconhecidos e diversos textos jornalísticos – documentários, inclusive - não constituem uma obra), mas, graças ao blog, posso falar com simplicidade das coisas que eu vejo, penso, sinto e sei.

Tenho quase meio século de vida e começo - utilizei o verbo no presente, propositalmente, por pura generosidade comigo mesmo – a sentir o peso da idade, embora ainda mantenha a garra, a inocência e a pureza de outros tempos já, há muito, idos. Às vezes sinto que envelheço sem ter amadurecido por completo.

Tal imaturidade escancara, de forma constante, grandes incômodos. O fato de, ainda ter, enorme retaguarda dos pais, de ainda buscar objetivos profissionais mais amplos, de estar longe da estabilidade financeira, muito comum em pessoas da minha idade, não deveria ser problema, mas, inevitavelmente, acaba sendo. Para sociedade. Mas quem disse que quero ser comum?

O fato é que, por tudo isso, freqüentemente, sou atormentado por um dilema: trocar a criatividade instável pela segurança medíocre? Medíocre e mentirosa. Medíocre porque quem é que pode, infeliz, realizar bem qualquer trabalho por mais digno, importante ou necessário que ele seja? Mentirosa porque é uma segurança volátil, pois em algum momento, com razão, sempre acharemos estar ganhando menos do que merecemos pelo trabalho executado.

O que eu posso fazer se é escrevendo peças, novelas e documentários, criando personagens, dirigindo shows, pesquisando músicas, produzindo espetáculos que me sinto feliz? O que posso fazer se, infelizmente, esse trabalho ainda não me dá, financeiramente, tudo o que preciso e tudo o que esperam de mim?

Quantas vezes, como agora, já não me peguei pensando em abdicar desses dez anos de investimento numa carreira e buscar um respeitável emprego formal? Conciliar as duas coisas é uma solução correta, eu sei. O que mais me entristece, porém, não é a dúvida, até porque ela não existe. O que me incomoda é o incômodo que essa postura causa nas pessoas. Sinto-me desrespeitado. Sou visto como sonhador, acomodado ou, o que é pior, vagabundo.

O caminho que escolhi, tenho certeza, vai render muitos frutos e todos os que me cercam poderão saboreá-los, basta paciência porque, sei também, o caminho é longo e a caminhada, lenta. Carrego na bagagem os pesados fardos da dignidade, do respeito, da honestidade, da lealdade, da decência, da dedicação e da ética.

Não quero, mas, ando pensando, outra vez, em utilizar o primeiro atalho que culmine na tal da segurança, porque com quase meio século vivido, temo que as pernas não suportem o esforço em carregar o terrível peso extra, dos quais quero me livrar o mais rapidamente possível, que, com o passar do tempo, vem sendo acrescentado à minha bagagem; a pressão e as cobranças.

Eis aqui um simples DESABAFO